Inteligência Emocional- Avaliação Psicológica
O presente estudo se propôs a investigar evidências de validade e precisão do Mayer, Salovey e
Caruso Emotional Intelligence Test - MSCEIT, um instrumento de avaliação da Inteligência Emocional, por meio de análise fatorial e coeficiente Alpha de Cronbach.
A amostra de sujeitos consistiu de 191 alunos universitários, provenientes dos cursos de Pedagogia, Educação Física, Administração, Ciências Contábeis e Sistemas
de Informação de uma instituição particular do interior do estado de São Paulo. O material utilizado foi aplicado em uma sessão coletiva em grupos separados por
seus cursos. O índice total de precisão do MSCEIT foi de 0,90, indicando consistência satisfatória. A análise fatorial pelo método de rotação Varimax apresentou
três fatores principais, responsáveis por 61,5% da variância dos escores dos diferentes subtestes, resultado que sugere aparente desacordo com o modelo de 2 e 4
fatores defendidos pelos autores do instrumento, mas que pode ser explicado em relação aos índices de precisão de seus subtestes.
Inteligência emocional é a capacidade criativa de solucionar o problema de forma rápida e eficaz no exato momento que ele aparece.
Avaliação Psicológica
Os testes psicológicos são, no Brasil, instrumentos de uso exclusivo do psicólogo, amparado por um Código de Ética que o
orienta quanto às possibilidades e responsabilidades de sua prática profissional (Conselho Regional de Psicologia, 1999). Eles não são de origem recente,
especialmente em âmbito estrangeiro, pois vários deles utilizados atualmente tiveram sua construção inicial nas primeiras décadas do século XX (Gardner, Kornhaber
& Wake, 2003).
Os testes, no entanto, fazem parte de uma atividade mais ampla da psicologia, conhecida como avaliação psicológica, a qual busca coletar dados por meio de técnicas
variadas, com finalidades como elaboração de um diagnóstico ou diferenciação de pessoas em termos de suas habilidades ou perfis psicológicos para atribuição de
funções ou níveis acadêmicos, por exemplo (Anastasi & Urbina, 2000).
À medida que o interesse pela avaliação psicológica aumenta (Noronha & Alchieri, 2002), por parte tanto de profissionais quanto de cientistas, evidenciam-se
simultaneamente alguns sérios problemas relacionados à construção e utilização de testes psicológicos, como bem analisados por Noronha (2002). Tais problemas podem
estar relacionados a diversos fatores, como a carência de pesquisa científica sobre a qualidade dos instrumentos comercializados ou mesmo à má formação do
psicólogo no que tange à maneira insuficiente como são contemplados os conteúdos referentes à avaliação psicológica nas grades curriculares dos cursos de
psicologia.
Como parte do esforço para se dirimir os problemas apontados, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem publicado resoluções que visam melhorar a qualidade
dos instrumentos utilizados no Brasil e, consequentemente, a credibilidade da prática profissional em avaliação psicológica. Mais recentemente foi publicada
a resolução nº 02/2003 que se propõe a definir e regulamentar o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos (CFP, 2003). Essa resolução
determina critérios mínimos que devem ser contemplados nos manuais dos instrumentos para comercialização, tais como, fundamentação teórica com a definição
do construto, apresentação da validade e precisão e informações sobre o sistema de correção e interpretação a ser adotado.
A validade e precisão citadas anteriormente são características técnicas que, ao serem avaliadas, evidenciam aspectos importantes quanto à qualidade de
qualquer teste em termos científicos e abrangem os chamados parâmetros psicométricos que podem ser divididos, em linhas gerais, em dois grupos que englobam
métodos de verificação de uma série de propriedades de seus itens. Esses grupos são, portanto, os que buscam evidências de validade e os que avaliam a
precisão ou fidedignidade.
Validade é definida por Anastasi e Urbina (2000, p. 143) como referindo-se "àquilo que o teste mede e a quão bem ele faz isso"; Pasquali (2001) a define como a
capacidade de um determinado teste de fato medir aquilo que ele se propõe a medir; e na definição de Cronbach (1996) pode-se perceber um conceito mais elaborado
quando coloca a validação de um teste como uma investigação da correção de uma interpretação.
Entre as técnicas possíveis para investigar evidências de validade de um teste a análise fatorial foi a selecionada para essa pesquisa e tem sido
tradicionalmente muito utilizada. Trata-se de uma técnica estatística que foi desenvolvida a partir de pesquisas sobre a natureza da inteligência
e é considerada especialmente relevante para a investigação de evidências de validade de construto. Um importante objetivo desse procedimento é agrupar
variáveis provenientes de vários escores de testes diferentes ou escalas de um mesmo teste ao qual um grupo de sujeitos é submetido, reduzindo-as ao menor
número de traços ou fatores possíveis e adequados para explicar a inter-relação entre as diversas variáveis. Esses agrupamentos de variáveis em torno de um
menor número de traços permitem identificar, por exemplo, a sobreposição de um mesmo construto presente na representação de escores de testes diversos. Este
se aplica para identificar construtos distintos, mesmo ao longo de itens de um mesmo teste, que apresentam cargas fatoriais diferentes, e por isso alocam-se
em grupos que não se relacionam (Anastasi & Urbina, 2000).
Precisão ou fidedignidade indica o grau de "consistência dos escores obtidos pelas mesmas pessoas quando elas são reexaminadas com o mesmo teste em diferentes
ocasiões, ou com diferentes conjuntos de itens equivalentes, ou sob outras condições variáveis de exame" (Anastasi & Urbina, 2000, p. 84). Cronbach (1996, p.
177) reduz a questão a duas perguntas importantes que precisam ser feitas em relação a qualquer teste: "Se as pessoas fossem testadas duas vezes, os dois
escores seriam semelhantes? Quão semelhantes?"
A precisão, portanto, diz respeito à estabilidade (fidedignidade e consistência) do instrumento em sua capacidade de reproduzir a testagem de maneira mais
próxima ao resultado verdadeiro possível num determinado traço. Esse conceito relaciona-se diretamente com o grau de variância erro do procedimento de
medida, ou seja, o quanto o resultado é afetado por fatores aleatórios e pelo erro de medida do próprio teste.
Por que a inteligência emocional é importante?
Os líderes definem o tom de sua organização. Se eles não tiverem inteligência emocional, isso pode ter consequências mais
abrangentes, resultando em menor envolvimento dos funcionários e maior taxa de rotatividade.
Embora você possa se destacar tecnicamente em seu trabalho, se não conseguir se comunicar efetivamente com sua equipe ou colaborar com outras pessoas, essas
habilidades técnicas serão negligenciadas. Ao dominar a inteligência emocional, você pode continuar avançando em sua carreira e organização.
Inteligência Emocional (IE)
A Inteligência Emocional como conceito, sua influência e suposta promessa de garantia de sucesso na vida pessoal e
profissional, tem sido motivo de grande interesse de profissionais da área educacional e empresarial, a ponto de alterar enfoques em propostas metodológicas
no ensino e procedimentos de recursos humanos em organizações.
O termo Inteligência Emocional foi utilizado pela primeira vez por Salovey e Mayer (1990) que o definiram como "a capacidade de perceber, avaliar e expressar
emoções com precisão; a capacidade de acessar e/ou gerar sentimentos de modo a facilitar o pensamento; a capacidade de entender as emoções e o conhecimento
emocional e a capacidade de regular emoções para promover o crescimento emocional e intelectual" (Mayer, Salovey & Caruso, 1997, p.10). Entretanto, a ampla
disseminação do conceito em meios não científicos deu-se graças ao best seller de Daniel Goleman (1996), levando a muitos a impressão de se tratar de uma ideia
nova. Na verdade, apesar de o interesse em torno deste assunto ter sido intensificado mais recentemente, conceitos envolvendo a base da Inteligência Emocional
já se mostravam presentes em pesquisas ao longo de todo o século XX, presentes em modelos teóricos do estudo da Inteligência: as chamadas inteligências não
acadêmicas (Hedlund & Sternberg, 2002).
Reconhecendo a necessidade de medição como critério básico para estabelecimento de um construto científico, os autores da IE desenvolveram inicialmente a
Multifactor Emotional Intelligence Scale - MEIS (Mayer, Salovey & Caruso, 1997), um teste composto de 12 subescalas que avaliam quatro aspectos da Inteligência
Emocional, quais sejam, percepção das emoções, facilitação do pensamento e compreensão e gerenciamento das emoções (Mayer & Salovey, 1999). Após vários estudos
que permitiram o aprimoramento do instrumento, seus autores publicaram o Mayer, Salovey, Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT), uma medida de Inteligência
Emocional, desenvolvida para produzir um resultado geral e resultados para os oito subtestes referentes aos quatro aspectos citados em relação ao MEIS (Mayer,
Salovey & Caruso, 1999).
Esses instrumentos possibilitaram estudos, no sentido de investigar a validade da Inteligência Emocional como um construto relacionado à inteligência, bem como
as correlações internas entre suas escalas. Para ser considerado inteligência, portanto, tal construto deve se relacionar com as outras inteligências existentes,
sendo, ao mesmo tempo, independente e passível de desenvolvimento com a idade, o critério desenvolvimental.
Da mesma forma que os estudos que relacionaram o MEIS com medidas de outros tipos de inteligência trouxeram contribuições significativas e indícios que apontam
para o delineamento da Inteligência Emocional como um construto psicológico e científico, pesquisas utilizando o MSCEIT poderão levantar dados esclarecedores
nesta direção. Na verdade, seus autores publicaram dados de pesquisa (Mayer e cols., 2003) sobre a última versão do MSCEIT, utilizando uma amostra de 2.112
sujeitos adultos e outra amostra com 21 especialistas, composta de membros da International Society for Research on Emotion.
Esse estudo examinou, entre vários aspectos, a precisão do teste. Os autores optaram, nesse caso, pelo método das metades e justificaram tratar-se da melhor
opção pelo fato de o formato dos itens ao longo do instrumento não serem homogêneos. Foram realizadas análises nos dois grupos de sujeitos apontando coeficientes
de r = 0,93 para a pontuação por consenso e r = 0,91 por especialistas. O índice de precisão geral apresentou-se acima de 0,90 (a=0,93), um valor satisfatório
em relação ao que se espera em termos de fidedignidade de um teste.
Outro ponto investigado foi referente à estrutura fatorial do MSCEIT V2.0. Realizou-se uma análise fatorial confirmatória na amostra de padronização, testando
os modelos de um, dois e quatro fatores, a fim de examinar a extensão da estrutura fatorial adequada para representar o domínio da Inteligência Emocional.
O modelo de um fator, concernente à Inteligência Geral (g), abrangeria todas as oito escalas do teste. O modelo de dois fatores dividiria as escalas em duas
áreas amplas, experiencial e estratégica, enquanto o modelo de quatro fatores englobaria em cada fator, duas escalas correspondentes a cada um dos quatro
aspectos do construto, ou seja, percepção, facilitação, compreensão e gerenciamento das emoções (vide Tabela 1). Contudo, os autores afirmam em seus resultados
que um modelo de quatro fatores se demonstra ainda mais adequado que os demais.
No Brasil foram realizadas pesquisas recentes utilizando o MSCEIT que corroboram os resultados americanos. Cobêro (2004) aplicou o MSCEIT e o BPR-5 numa
amostra de 117 sujeitos, funcionários de diversas empresas do interior do estado de São Paulo. A precisão do MSCEIT apresentou-se satisfatória (a=0,84),
porém bem abaixo do índice apresentado no estudo americano (a=0,93). Foi aplicada análise fatorial pelo método de rotação varimax que extraiu dois fatores
responsáveis por explicar 50% da variância em relação aos oito subtestes do instrumento, apontando para as duas áreas que fundamentam o MSCEIT (experiencial
e estratégica).
Outro estudo em amostra brasileira de 270 sujeitos, universitários do interior paulista (Dantas, 2004), objetivou investigar evidências de validade
discriminante entre o MSCEIT e o 16PF, que avalia a personalidade classificada por dezesseis fatores. O índice de precisão (a=0,82) nesse caso ficou
próximo do encontrado na pesquisa de Cobêro (2004), bem como a análise fatorial também extraiu dois fatores. As correlações indicaram que não houve
sobreposição de construtos e evidências de que a Personalidade e a Inteligência Emocional são distintas, apesar de alguns fatores da Personalidade
terem apresentado correlações baixas e significativas com alguns subtestes do MSCEIT, indicando que pessoas com determinadas características de personalidade
apresentam maior habilidade para interagir com conteúdo emocional.
O MSCEIT, portanto, é o instrumento de estudo desta pesquisa, que buscou investigar sua precisão e a validade de construto, por meio de análise fatorial, no
que tange à capacidade de avaliar os aspectos da Inteligência Emocional, verificando os resultados de seus vários subtestes entre si.
Método
Participantes
Participaram desse estudo 191 estudantes universitários de cursos diferentes das áreas de humanas e exatas de um Centro Universitário particular do interior
paulista. A amostra se dividiu em 40% de alunos do curso de Pedagogia (N=77); 26% de Administração de Empresas (N=50); 14% de Sistemas de Informação (N=28);
11% do curso de Educação Física (N=22); e 7% provenientes do curso de Ciências Contábeis (N=14). Em relação ao semestre letivo, a amostra se dividiu em
primeiro (61%; N=117) e sétimo semestres (39%; N=74). Vale salientar que os cursos Ciências Contábeis e Sistemas de Informação ainda não possuem turmas de
sétimo semestre por se tratar de cursos novos, portanto, participando, na divisão por semestre, somente da constituição da amostra de alunos do primeiro
semestre.
A idade dos sujeitos variou de 17 a 60 anos; 9 participantes não preencheram completamente os dados de identificação. A idade média foi de 25 anos e o
desvio-padrão 7,9. Em relação ao gênero, a amostra se dividiu em 43% do sexo masculino (N=78) e 57% do sexo feminino (N=104).
Um dos aspectos desse instrumento que tem recebido mais críticas é seu sistema de pontuação e correção. O manual instrui que os dados sejam encaminhados para a
editora nos EUA a fim de que sejam corrigidos, embora já se conheça esforços e contatos com a editora para que se desenvolvam critérios no Brasil que deem conta
dessa importante etapa da avaliação. Para esse estudo, no entanto, utilizou-se a correção pelo critério de consenso. Dessa forma, a pontuação para cada item era
obtida de acordo com a porcentagem de sujeitos que optavam pela mesma alternativa de resposta. A porcentagem do consenso era, então, transformada em pontos
que compunham o escore de cada uma das oito sessões do teste.
Procedimentos
O Projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade São Francisco. Os dados foram obtidos por meio da aplicação coletiva do
MSCEIT, em sessão única, após contatos e acertos com a instituição selecionada para a devida autorização e agendamento, em sujeitos com idade igual ou superior
a 17 anos. Os testes foram aplicados após os sujeitos terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), cuja 2ª via permaneceu em seu poder,
e estarem cientes dos objetivos da pesquisa e da preservação do sigilo. A fim de controlar o efeito fadiga, optou-se por dividir o MSCEIT em duas partes, em
forma de dois cadernos, um com as primeiras quatro seções e outro com as quatro últimas, utilizando-se a primeira parte em metade do grupo e a outra parte na
outra metade, alternando em seguida. As análises foram realizadas por meio do Programa SPSS (Statistics Program for Social Sciences).
Resultados e Discussão
O trabalho buscou evidência de precisão e validade do MSCEIT para medir a Inteligência Emocional. A precisão foi
investigada por meio do índice Alpha de Cronbach que observou a consistência total do instrumento e de seus subtestes. A validade de construto foi investigada
por meio de Análise Fatorial, método de rotação Varimax. Por questão de organização didática, optou-se por dividir a apresentação dos resultados em três partes
distintas. A primeira traz os dados da estatística descritiva do MSCEIT. A segunda parte apresenta os índices de precisão por subtestes e total do instrumento,
e a terceira apresenta a análise fatorial.
1. Estatística descritiva
Foram realizadas duas análises quanto à estatística descritiva do MSCEIT, enfocando dois aspectos do instrumento. A primeira a partir dos subtestes do
mesmo e a segunda com base nas áreas e facetas que correspondem à sua estrutura teórica. Tais análises podem ser visualizadas na Tabela 2. A maior média
foi constatada no subtestes Transição (M=41,44) e a menor na de Relações (M=33,91).
2. Índices de precisão
Conforme já descrito na introdução deste trabalho a precisão indica o grau de "consistência dos escores obtidos pelas mesmas pessoas quando elas são
reexaminadas com o mesmo teste em diferentes ocasiões, ou com diferentes conjuntos de itens equivalentes, ou sob outras condições variáveis de exame"
(Anastasi & Urbina, 2000, p 84). Precisão, portanto, indica baixo índice de erros de medida ou influência de outras variáveis não relevantes e que
venham a comprometer a confiabilidade da interpretação dos resultados (Cronbach, 1996). Antes, porém, da apresentação e discussão dos dados relativos
à precisão do MSCEIT, faz-se necessário esclarecer que, para essa finalidade, optou-se pelo índice Alpha de Cronbach (a), por se tratar de técnica
adequada para as análises realizadas nessa pesquisa, levando-se em consideração os sujeitos terem sido submetidos a uma única aplicação de cada
instrumento, bem como o formato dos itens de alguns subtestes do MSCEIT serem escala Likert (Anastasi & Urbina, 2000).
Vale esclarecer ainda que a resolução 002/2003 do CFP (2003), que regulamenta os critérios básicos para o uso, construção e comercialização de testes
psicológicos no Brasil, estabelece níveis de precisão de excelente a bom (Nível A) quando os índices se apresentam acima de 0,60 e suficiente (Nível B)
quando apresentam coeficientes 0,60 ou alguns índices abaixo desse valor limite. É importante ressaltar que publicações internacionais estabelecem limites
diferentes para a avaliação dos índices de precisão (Prieto & Muñiz, 1999), e que estes, por sua vez, variam de acordo com o número de itens do instrumento.
Nessa relação, quanto menor for a quantidade de itens, maior a necessidade de altos índices de precisão, para que o instrumento apresente qualidade
satisfatória.
Conforme apresentado na Tabela 3, observaram-se coeficientes de precisão satisfatórios e acima de 0,60 para quase todos os subtestes do MSCEIT, com
exceção apenas dos subtestes Transição (a=0,54) e Combinação (a=0,51), ambos correspondentes à faceta Compreensão das emoções (a=0,62). Esta situação
foi verificada também no trabalho de Dantas (2004) que apontou índices ainda menores de precisão nos mesmos subtestes Transição (a=0,10) e Mistura
(a=0,05) e na faceta Compreensão das emoções (a=0,19).
O fato de esses baixos índices terem sido encontrados nos mesmos itens e em grupos de sujeitos diferentes poderia sugerir problema de consistência nesses
dois subtestes do instrumento. Em resposta, Mayer e cols. (2003) apresentam melhores índices de precisão em Transição (a=0,70), Mistura (a=0,66) e no
total dos subtestes (a=0,93). No que tange aos dados analisados nessa pesquisa, pode-se considerar que o instrumento, no total (?=0,90), apresentou
índice de precisão de excelente a bom (nível A), segundo as normas do CFP. A constatação de subtestes com índices abaixo de a=0,60, no entanto, sugerem
cautela aos usuários do instrumento quanto à sua interpretação. Pesquisas recentes em amostras brasileiras têm apresentado índices de precisão geral do
MSCEIT em graus semelhantes, como os trabalhos de Cobêro (2004) e Dantas (2004) que apresentaram, respectivamente, a=0,84 e a=0,82.
3. Análise fatorial do MSCEIT
A análise fatorial é um tratamento estatístico que permite agrupar variáveis provenientes de escores de testes aplicados a um grupo de sujeitos, ou neste
caso específico, escores provenientes dos subtestes do mesmo instrumento, de forma a verificar quantos fatores são necessários para explicar todas as
variáveis presentes. É uma importante técnica na pesquisa de evidências de validade de construto porque permite analisar a configuração dos dados
coletados pelo teste em relação ao arcabouço teórico subjacente ao construto (Anastasi & Urbina, 2000).
Como pode ser visualizado na Tabela 4, a análise pelo método de rotação Varimax e extração por componente principal apresentou-se aparentemente inadequada,
tomando-se por referência o modelo teórico que fundamentou a construção do instrumento, baseando-se nas duas áreas amplas da IE, experiencial e estratégica,
e nas quatro facetas, percepção, facilitação, compreensão e gerenciamento (Mayer, Salovey & Caruso, 1999). Os quatro primeiros subtestes (faces, figuras,
facilitação e sensação) apresentaram cargas no fator 1, que teoricamente, corresponderia à área experiencial. Os dois últimos subtestes (administração e
relações) apresentaram cargas no fator 2, correspondendo à área estratégica, enquanto o quinto e o sexto subtestes (transição e mistura) apresentaram
cargas num terceiro fator, que segundo o modelo teórico, deveria corresponder também à mesma segunda área. Esses três fatores foram responsáveis por
61,5% da variância dos escores dos diferentes subtestes com eingenvalues 2,90, 1,10 e 0,95, respectivamente.
Esses dados se diferenciam dos obtidos na pesquisa norte-americana utilizando o MSCEIT, aplicada em 2.112 sujeitos (Mayer & cols, 2003), em que os
autores defendem um modelo de dois e quatro fatores como mais adequado, e das pesquisas brasileiras (Dantas, 2004; Cobêro, 2004) que apresentaram solução
em dois fatores. A característica distinta é o fato de os subtestes da faceta Compreensão das emoções, que teoricamente seriam provenientes da área
estratégica, junto com os subtestes da faceta Gerenciamento das emoções, apresentarem cargas fatoriais num fator distinto, o que levaria a supor
tratar-se de uma terceira área, em desacordo, portanto, com o modelo teórico proposto. Entretanto, os dados discutidos na sessão sobre precisão, em
relação aos índices do MSCEIT, sugerem uma interpretação plausível para essa aparente inadequação quanto aos dados da literatura. Visto que os subtestes
Transição e Mistura, que compõem a faceta Compreensão das emoções, foram os únicos a apresentar índices de precisão abaixo do desejável (a=0,60) de
acordo com o CFP (2003), é provável que sejam os responsáveis pela configuração de um terceiro fator, que na verdade teria sido resultado do deslocamento
desses subtestes que, caso se apresentassem mais precisos, poderiam ter sido alocados no segundo fator, compondo assim as duas facetas da segunda área do
modelo teórico. Nesse caso, a aparente inadequação ao modelo de dois ou quatro fatores poderia ser justificada em razão de características de precisão
dos subtestes.
Considerações finais
A hipótese subjacente que se buscou comprovar é a de que os resultados encontrados na aplicação do Mayer, Salovey &
Caruso, Emotional Intelligence Test (MSCEIT), se ajustam perfeitamente ao modelo teórico proposto pelos autores do instrumento. Segundo estes, o conceito de
Inteligência Emocional indicaria um construto que abrange duas áreas amplas (experiencial e estratégica) que se dividem em quatro facetas (percepção,
compreensão e gerenciamento das emoções e facilitação do pensamento). Em vista disso a presente pesquisa objetivou investigar as propriedades psicométricas
de precisão e vaidade de construto do MSCEIT.
Torna-se importante, nessa parte do trabalho, contextualizar os objetivos dessa pesquisa com a situação atual da área de avaliação psicológica, na qual ela se
insere, ressaltando assim a relevância dos resultados em função dos mesmos objetivos que foram propostos. A testagem psicológica, apesar de não ser uma
atividade nova, tem vivido um momento de grande interesse e retomada no esforço de pesquisa, buscando aprimorar suas técnicas, tanto no âmbito da psicologia
no Brasil quanto internacionalmente (Noronha & Alchieri, 2002). Entretanto, quanto à construção, aprimoramento e pesquisas que contribuam para a melhoria da
qualidade de instrumentos de avaliação psicológica, o Brasil ainda se encontra em situação bastante desfavorável (Noronha, 2002). Esse panorama, no entanto,
vem se alterando e já são notórias as mudanças que vêm contribuindo para o avanço dessa área no Brasil.
Esta pesquisa foi um esforço para contribuir nesse sentido, e acredita-se terem sido alcançados os objetivos a que se propôs, contribuindo com dados empíricos
que se somam aos estudos que elucidam as questões atuais e controversas que permeiam a IE e sua mensuração.
Vale ressaltar que os dados levantados e discutidos nesse trabalho, e que se soma a todo o esforço científico para construir um tratamento adequado e um
arcabouço teórico sólido para o construto da IE, apontam para um campo de estudos promissor, porém ainda carente de subsídios empíricos, pelo menos se
comparado a outros construtos já solidamente estabelecidos da psicologia. Isso deveria levar-nos à cautela e senso crítico ao tratarmos de conclusões e
afirmações, às vezes, demasiadamente contundentes relacionadas à IE, como infelizmente é comum na literatura não científica.
O primeiro objetivo específico dessa pesquisa refere-se a comprovar a adequação do instrumento MSCEIT ao modelo teórico defendido por seus autores, segundo os
quais, a IE se estrutura a partir de duas áreas amplas (Experiencial e Estratégica) e quatro facetas (Percepção, Facilitação, Compreensão e Gerenciamento).
Eles apresentam estudos nos quais, por meio de Análise Fatorial e utilizando uma amostra de 2.112 sujeitos, encontram solução fatorial que corrobora esse
modelo (Mayer et al, 2003).
A Análise Fatorial realizada na amostra de sujeitos aqui avaliada pareceu adequar-se melhor a um modelo de três fatores, que seriam: Percepção, Compreensão e
Gerenciamento emocional. Esse resultado incluiria a faceta Facilitação do Pensamento no mesmo fator da Percepção emocional, o que resulta em certa diferença
estrutural em relação ao modelo teórico de quatro fatores. Assumindo-se um modelo de dois fatores a partir das duas áreas amplas da IE, como sendo a melhor
solução fatorial para os dados desta pesquisa, é plenamente possível argumentar que o terceiro fator que apareceu composto pelos dois subtestes da faceta
Compreensão das emoções, na verdade, teria deslocado estes da segunda área ampla (Estratégica) por terem apresentado níveis psicométricos insatisfatórios,
como mostra a análise da precisão do instrumento.
O segundo objetivo a ser contemplado trata dos índices de precisão do MSCEIT. A técnica adotada foi o Alfa de Cronbach (a), e, por meio das análises realizadas,
a precisão do instrumento, se mostrou de excelente a boa (nível A), segundo as normas do CFP (2003), em todas as áreas e facetas do instrumento que apontaram
índices acima de 0,60. Somente a faceta Compreensão ficou abaixo desse limite em seus dois subtestes, Transição (a=0,53) e Mistura (a=0,51). O índice de
precisão total da IE mostrou-se excelente (a=0,90), permitindo a conclusão de que, corroborando os dados de outras pesquisas já apontadas nesse trabalho,
o instrumento tem apresentado níveis satisfatórios nesse aspecto dos parâmetros psicométricos (Mayer & cols, 2003; Cobêro, 2004; Dantas, 2004).
Enfim, após as hipóteses terem sido avaliadas e os objetivos da pesquisa contemplados de forma satisfatória, acredita-se que o trabalho, ora apresentado, tenha
contribuído para o avanço das pesquisas que pretendem elucidar as questões relacionadas com a IE como construto científico e, mais especificamente, para o
refinamento do MSCEIT como instrumento que merece investigação e aprimoramento de seus parâmetros psicométricos. Evidências de validade e precisão foram
objetivos razoavelmente alcançados; no entanto, faz-se necessário que novas pesquisas sejam realizadas e novos dados sejam acrescentados para suprir as
deficiências apontadas e permitir o avanço do estabelecimento da Inteligência Emocional como um construto sólido e científico.
Fique por dentro de tudo